Rui Veloso matou saudades e brindou ao blues

Foram muitos os que quiseram passar um domingo diferente no nosso Centro. À boleia da 2ª edição do festival Nova Arcada Braga Blues, Rui Veloso falou, cantou e tocou blues para uma sala cheia. Budda Guedes, organizador e curador do evento, diz-lhe o que ainda não pode perder até dia 19 de outubro.

Ainda não eram 17h e já muitas eram as pessoas que esperavam, de bilhete na mão e olhar curioso, à porta dos Cinemas Cineplace para assistir ao programa “Vamos falar de Blues com… Rui Veloso”.  A iniciativa com o músico, considerado por muitos o pai do rock português, foi um dos pontos altos da 2.ª edição do Nova Arcada Braga Blues, um festival inteiramente dedicado a este género musical e que se prolonga até dia 19 de outubro. 

Com o cunho do Centro Comercial Nova Arcada e da Câmara Municipal de Braga, o evento conta com a organização da Mobydick Records, Micha Rudowski e Budda Guedes, eleito várias vezes como o melhor músico de blues nacional. Foi ele que deu as boas vindas à plateia, pronto a iniciar uma conversa-concerto num ambiente intimista e acolhedor, graças a um cenário composto por peças Ikea.

Budda começou por lembrar a primeira vez que conheceu Rui Veloso, um amigo de longa data da família, aos seis anos e o fascínio que sentiu ao apertar-lhe a mão. “Quem é Rui Veloso?” foi a primeira pergunta feita quando se apoderou do microfone. “Sou uma pessoa normal com queda para a música. Tive a sorte da música me ter escolhido”, respondeu o artista de 61 anos, que já conta com 37 de carreira.

Ganhou a consciência do racismo ao escutar o discurso “Eu tenho um sonho”, de Martin Luther King em 1963 e logo percebeu: “Tenho uma parte negra em mim”. Descobriu cedo a guitarra, a harmónica o o blues, que continua bem presente na forma como toca, canta e se apresenta em palco. “Não sei porque gostei de blues, senti-me atraído por algo que era diferente. O jazz não existia sem o blues, é uma base, uma linguagem que para se entender é preciso sentir.”  

O seu primeiro contacto com este estilo musical chegou com o gospel, especialmente com o Golden Gate Quartet, depois chegaram influências como Taj Mahal, Prince, Tom Waits, Stevie Wonder ou BB King, com quem teve a sorte de partilhar o palco seis vezes. De guitarra ao colo e um copo de vinho tinto na mão, Veloso confessa que ficou longe de fazer o que queria mas afirma que o blues está cada vez melhor, embora estejam a desaparecer nomes gigantes e cheios de história. “Estou a ficar órfão de mestres, temos o que eles fizeram e isso é fundamental.”

A música foi surgindo naturalmente e intercalando a conversa, de forma espontânea e completamente improvisada. Ouviram-se clássicos do blues a temas próprios como “Chico Fininho”, um hino capaz de fazer com que a plateia cantasse em coro, estalasse os dedos ou batesse com o pé no chão, sentido o groove. Os aplausos também não tardaram em chegar e a prova de que Rui Veloso é um músico consensual e que atravessa gerações foram as fotografias e os muitos autógrafos pedidos no final da conversa.

Até dia 19 de outubro Braga é a cidade da música. A programação recheada da 2.ª edição do festival Nova Arcada Braga Bues tem ainda como destaques os concertos de Boo Boo Davis, dia 18, e Doug MacLeod, dia 19, no Theatro Circo.

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